abril 10, 2007

a liberdade de escolher

Lembras-te do final de Vai aonde te leva o coração? «E quando à tua frente se abrirem muitas estradas, {...} não metas por uma ao acaso, senta-te e espera. Espera e volta a esperar...» Sentarmo-nos, esperar. Duas palavras tão distantes do nosso consumo frenético do tempo! E já nem falamos de estar em silêncio. Mas são justamente estas as três condições que nos ajudam a escolher o melhor caminho. A imobilidade, a paciência, o silêncio. Porque, para se escolher, há que eliminar toda a tagarelice que nos rodeia, as formas correntes, banais, de pensar, os lugares e os modos da conveniência. Há que ir ao fundo de nós mesmos e escutar. Temos de ser capazes de esperar com paciência e humildade, porque a consciência profunda é tão esquiva como um animal selvagem e, muitas vezes, há outros apelos - vozes, conselhos, oráculos - que tentam abafá-la. E mais ainda, fazer uma escolha consciente - como já notaste com o teu «é tremendo recomeçar tudo do zero» - torna a vida mais difícil. Porque as escolhas constroem um percurso. Um percurso que se revela cada vez mais duro do que deixarmo-nos simplesmente levar pela corrente.
O Fogo e o Vento, Susanna Tamaro

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