julho 25, 2006

sinónimos

Quero acordar outra vez, e esquecer que um furacão atravessou a minha vida e desarrumou as gavetas fechadas do meu coração. Restam-me agora umas meras esperanças de que o meu coração abra a janela dos fundos, e deixe um novo vento entrar e arrastar consigo os restos de almas perdidas que por lá vagueiam. E, se no vento que lá entrar, um novo sopro de vida renasça, que seja agora que eu descubra que felicidade e amor são palavras sinónimas.

julho 17, 2006

a simples razão

Encontrei um homem, e apaixonei-me por ele.

Deixei-me apaixonar por uma simples razão: não espero nada...

Onze Minutos, Paulo Coelho

julho 12, 2006

(falta de) consciência

Não sei o que é nem me interessa, mas há qualquer coisa. E não me perguntes se ainda gosto de ti ou outras perguntas do tipo sim ou não, porque as mulheres não funcionam assim. Digo-te já que não sei, e nem sei se vou saber tão cedo. Gosto de ti porque foste meu, e gosto de ti porque poderás voltar a sê-lo um dia, se quiseres ou achares que vale a pena. Agora não gosto tanto, porque penso noutra pessoa e não tenho consciência de mais nada.

Uma Mulher Não Chora, Rita Ferro

julho 10, 2006

um dia

Um dia, vais mesmo sentir amor por alguém que te vai descartar. E vais sofrer a perda, a dor, a ausência, o silêncio e a indiferença. E vais ligar dez vezes para o telemóvel de alguém, mergulhado em raiva e sofrimento. Do outro lado, ninguém há-de atender. E essa mulher desconhecida, que imagino mais nova, mais fresca, mais bela e muito mais forte do que eu, lerá as tuas mensagens desesperadas com um suspiro enfadado, para logo a seguir as apagar, sem pensar duas vezes. E encolherá os ombros perante os embrulhos de presentes que lhe deixares à porta e virar-te-á as costas, quando te avistar ao longe numa festa. Um dia, uma mulher qualquer, provavelmente uma miúda, vai fazer-te o mesmo que me fizeste. Mas enquanto esse dia não chega, agarro-me às minhas memórias e, de vez em quando, apesar de saber que não atendes os meus telefonemas, não respondes às minhas mensagens e bloqueaste o meu endereço de e-mail, ainda espero por ti…
Vai chegar o dia em que terás de atender o telefone, terás de responder às minhas mensagens, terás de me enfrentar e me explicar porque é que desapareceste da minha vida.
Pessoas Como Nós, Margarida Rebelo Pinto

julho 07, 2006

alma de pássaro

E se um dia destes o Miguel acorda e decide abrir as asas e cruzar os céus? Só de pensar nisso fico com dores de estômago e um arrepio desce-me desprevenidamente pela espinha. Estarei assim tão presa a ele? Quando começámos nem sequer o levava a sério...

Encolho os ombros e respiro ainda mais fundo, à procura de uma força qualquer que não encontro. Afinal, do que é que eu estava à espera? Vem aí o Verão, e quando o Verão chega, fica tudo mais ou menos confuso, como diz o Fred.
Boys will be boys. Talvez a Ana e a Teresa tenham razão: vivo com demasiada fé e dedicação uma relação que, afinal, não é assim tão sólida. Ou, se calhar, é. Mas eu sou tão insegura que já ponho tudo em causa, só porque ele, hoje, vai jantar com os amigos e não passa comigo o fim-de-semana. Que chatice, estes medos fazem de mim a minha maior inimiga, se continuo assim, a minha vida rapidamente se transforma num inferno.

Mas quem corre por gosto, não cansa.

Se não fosse o Miguel, não sei o que seria da minha vida. Já nem me lembro como era antes dele aparecer...

- Um dia destes vou-me outra vez embora, já sabes como sou...

Eu sei, mas não me interessa. Nunca me interessou o que é que o Miguel ia fazer no dia seguinte, muito menos dai a uns meses. Habituei-me a tê-lo ao meu lado, sem lhe exigir mais do que a sua presença e o amor que tem para me dar. Habituei-me sobretudo a não esperar nada e a receber tudo o que me dá como uma dádiva, uma éspecie de bónus, o prémio que deixa o bom funcionário surpreendido.

...olho para o Miguel a dormir a meu lado, e lembro-me de que não é meu, que pode partir de um dia para o outro, como fez o Pedro. Mas quando acordo e no dia seguinte ele ainda lá está, penso que cada dia a mais já é uma eternidade. E os dias sucedem-se numa paz harmoniosa e tão doce que vai apagando a memória das discussões com o Pedro...

O Miguel está, sem saber, a apagar os fantasmas... O Miguel está a fazer-me bem, e só por isso, já merecia o mundo.

Gosto de me derreter pelo fio a falar com o Miguel.

E porque é que não há-de resultar uma relação que tem tudo, com uma pessoa que adoro, com quem me dou tão bem em tantas coisas? Antes do Miguel aparecer na minha vida, vivia sempre com a sensação que demasiadas coisas me passavam ao lado.

Quem ama e consegue esquecer é uma espécie de assassino: mata a realidade, apaga-a, renega-a e tranforma-a num pesadelo absurdo no qual somos obrigados a aprender outra vez a viver.

Alma de Pásaro, Margarida Rebelo Pinto

ponto final

O ponto no final da frase. Um espaço em branco numa linha recta. Dirias, "foi uma vida que ficou para trás". Mas eu nunca acreditei no que tu dizias, porque tu não sofrias. Ou pelo menos, não sofrias como eu. Eu era o sangue, a lágrima e a dor do nosso sofrimento. Tu, limitavas-te a ser memória. Eu gritava, zangava-me e não compreendia. Tu fechavas os olhos e fingias que nada acontecia. Eu ia embora zangada, tu não ias. Tu nunca deixavas o teu mundo, nem me emprestavas quando eu precisava. Foi ao conquistá-lo que percebi que nunca ia ser meu. Eu queria ser feliz a teu lado. Tu só querias ser feliz. E a nossa felicidade caminhava lado a lado, mas não tinha o mesmo destino. Seguimos sempre o mesmo caminho, mesmo quando os nossos mundos tomaram sentidos diferentes. E reconhecemos, mesmo ao longe, os sorrisos que nos uniram por uma vida inteira. Mesmo assim, tu nunca quiseste voltar a trás. E eu, nunca tive coragem de correr a trás de ti.E como as nuvens do tempo que passaram, outros sorrisos vão abrindo caminho por uma janela nos fundos. Porque hoje, acordei e vi: "há uma nova estrela a brilhar no céu."

julho 04, 2006

na minha lua


Eu tava na lua e a minha lua partiu-se.


Maria João Lopo de Carvalho, Adopta-me

eu

Achava que o mundo era muito grande e que não ia ter tempo de ir a todos os sítios que queria nem de conhecer todas as pessoas que sonhava que existiam. Queria beber a vida toda de uma vez, queria tudo ao mesmo tempo, achava que sabia imensas coisas, distinguia o bem do mal e o preto do branco, vivia rodeada de sonhos e cheia de certezas.


Alma de Pássaro, Margarida Rebelo Pinto