abril 11, 2007

adaptar-se à mediocridade?

Num mundo onde os únicos sonhos permitidos são os que se podem comprar, a felicidade passou a ser apenas um atributo da posse. A realização pessoal, que é - ou deveria ser - o caminho de qualquer vida, já só consiste perversamente na resignação e na sujeição. Realizo-me adaptando-me, executando os gestos dos outros sem nunca me interrogar. Relizo-me não me realizando, porque a sociedade não me permite mais nada, porque só tenho duas pernas, curtas, e não vejo asas a despontar em parte alguma do meu corpo. Mas será assim ou será apenas um álibi, uma forma de preguiça mental?
Basta parar por um instante e observar o mundo da natureza que nos rodeia para ver que tudo fala da gratuitidade inquietante, da fragilidade e da beleza das formas vivas.
Embora tentemos viver em caixas hermeticamente fechadas, o mistério resplandece à nossa volta e sugere-nos o caminho a percorrer. Não existe mediocridade, monotonia. O que existe é apenas o nosso medo. Medo de crescer, medo de nos abrirmos às emoções. Medo de descobrirmos que não há nenhuma jaula à nossa volta, que o que existe é apenas liberdade, ar. E se erguermos levemente os olhos, o espaço infinito do céu.
O Fogo e o Vento, Susanna Tamaro

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