março 28, 2007

"Fazes-me Falta", Inês Pedrosa


Era mais que feliz contigo. Acreditava que tinha encontrado o "principe". Acreditava na eternidade. Achava que a "efémera" era a nossa lição de vida e vivia feliz no nosso mundinho de afectos e carinho.
Estou sozinho. Sozinho com o coração em bocados espalhados pelas tuas imagens.
Fiquei perdida. Felizmente, não sozinha (obrigado Morango e Tonto). Caiu-me um pilar. Ninguém deu por isso.
Quando te conheci vivia um período apático. Um dos poucos períodos apáticos da minha vida.
Não sei onde nos fomos encontrar, mas quando apareces-te trouxeste o sol aos meus dias de nevoeiro.
Não te perdoo o que não soubeste saber de mim.
Durante algum tempo senti-te raiva. Depois, entrei numa fase de apatia e criei o botãozinho. Se não pensasse, não existias.
Não creio que possa envelhecer contigo, mas gostava de ter um filho teu antes de nos separarmos.
Deste-me o sol... a lua, as estrelas... E, um dia, sem aviso, roubastemos. Já tinhamos construído uma vida juntos.
E eis-me preso à memória escura dos teus olhos, dos teus passos saltitantes, da tua alegria convicta que a partir de certa altura começou a açucarar demasiado a minha vida.
Hoje penso que sempre soube que, mais cedo ou mais tarde te ia perder. Saber eu sabia, só não queria acreditar.
Acreditava que o sentido da minha vida estava nesses encontros, e confronto-me agora com a falta que tu me fazes.
Ao teu lado, era feliz. Só. Sem mais nada. Sem tudo aquilo a que fui habituada. Bastavas tu. O teu sorriso. O teu peito para encostar a cabeça.
E entreguei-me - terás percebido isso? Deixei de saber quem era. Continuo a precisar de ti para existir. Para dormir.
Ainda hoje preciso. Não sei bem se preciso de ti ou daquilo que eu era contigo.
«Eu não te mereço isso.»
Não merecia. Fiz tudo por ti, por nós. Mas um só não basta.
Fiquei em ti mas deixaste de precisar de mim, e por isso precisei ainda mais de ti.
Quando percebi que vivias bem sem mim, tive a triste certeza de que também tinhas vivido aqueles meses sem mim.
Descobri em ti aquilo que eu era para além de tudo o que ia sendo.
Hoje sei que quero ir sendo aquilo que sou. Aquilo que aprendi a ser contigo. Obrigado pelo sentido que deste à minha vida.
(04.2006)

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