novembro 16, 2006

Um casal de pegas rabudas faz o ninho em frente à minha janela – todas as manhãs sou acordado pelo seu intenso grasnar e fico a vê-las trazer pauzinhos com o bico – acho que é um sinal de boas-vindas ter dois passaritos assim expostos na sua intimidade – é como se me dissessem "eis um bom lugar para começar tudo de novo. Fazemos-te confiança…” o marroquino do bar da esquina recebe-me sempre com um rasgado sorriso e um caloroso aperto de mão - de vez em quando oferece-me mesmo as bebidas – está outra vez a chover - chove muitas vezes - uma chuva miudinha, que mal se sente e que não impede ninguém de sair de casa - nestas alturas o céu fica pesado, cor de chumbo, a tocar os telhados – é quando eu mais gosto de ir à deriva, levado pelas sombras que aqui e ali afloram em determinadas ruas.

Humano, Adolfo Luxúria Canibal e Miguel Pedro

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