abril 09, 2008

quando o tempo não sara

Dizem que o tempo sara todas as feridas. Talvez seja verdade. Mas há feridas que parecem não sarar. Sangram, vertem pus, voltam a sangrar, surpreendem-nos a magoar a alma quando esta já deveria estar habituada e imune a tanta dor. É certo que, ás vezes, essas feridas acalmam, como as marés que recolhem a água e recuam para o mar alto; mas, tal como as marés, regressam depois, revigoradas, pujantes, invadindo de novo a praia e fazendo sentir o fulgor da sua presença, o ímpeto do seu regresso. (…) Sentia-a por vezes a apertar-lhe o pescoço até quase não conseguir respirar, sentia-a dentro de si em parte incerta, ora na cabeça, ora no coração, ora no ventre, ora nos pulmões. Sentia-a nas pernas e nos olhos. Sabia que ela estava dentro de si, mas se lhe perguntassem onde se encontrava exactamente, não saberia responder. Ou melhor, sabia: no fundo, no fundo, sabia bem onde encontrá-la.

A Ilha das Trevas, José Rodrigues dos Santos

1 comentário:

E´strano...e' strano!!! disse...

Sara meu doce...claro que sara! Só ainda não te disponibilisas-te para passar por todo o processo que é algo doloroso...ainda não estas disponivel para sofrer. (Somos assim...já nascemos assim...solteiras:)LOL