junho 25, 2007

memória











A persistência da Memória, Salvador Dali
Definição de memória:
s. f. faculdade que o espírito tem de evocar fenómenos passados.
Guardamos tudo na memória, ao estilo das micas em dossiers organizadas por separadores coloridos. Fazemos dela uma base de dados, com um data warehouse e um datamining. Se necessário, aplicamos um ERP para ter melho acesso aos seus conteúdos. Guardamos tudo. Ás vezes, coisas a mais. E tudo persiste na nossa memória. Ás vezes, com umas núvens à frente, como as fotos antigas que começam a desbotar, ou as folhas velhas quando começam a ficar amarelas. Mas continua na memória. Toda a matéria que constitui a nossa vida.
A vida é uma efémera passagem. Que nada tem de superficial.

1 comentário:

Enolough disse...

Uma professora minha disse um dia que "o amor é eterno enquanto dura", ou seja que enquanto há amor há uma espécie de neblina que impede ver o fim que faz com que cada segundo seja uma eternidade inteira.

Ora eu creio que se pode fazer isso à vida, para que ela deixe de ser uma passagem. Povoamos as memórias de momentos eternos que o foram na altura e que por serem memórias mais eternos ficam.

A memória não é a coisa que foi, é o que achamos que a coisa foi, é por isso que a memória pode até ser mais bonita do que a realidade acontecida. A memória é, em última instância, um repositório de um passado idealizado, desenhado nas nossas mentes. Pelas memórias constituímos um passado de "isto foi", uma relação fotográfica, indicial, com o tempo já passado. Mas as memórias também determinam a maneira como agimos no presente e como planeamos agir no futuro. Porque nas memórias ficam aprendisagens, maneiras de proceder e de não-voltar-a-proceder, coisas que queremos ter e coisas que não queremos voltar a ter.

Superficial? A vida é uma complexidade que se desenvolve desde o orgânico ao mais íntimo, ao psicológico, ao afectivo. A vida é uma dádiva que precisa de memória para ser percebida como vida e não como mera existência. É sabido que o que faz o humano é a linguagem, o raciocínio abstracto, a capacidade de referência, a consciência de si, a comunicação e a memória. Na verdade, todos estes factores estão conjugados e dão ao humano a possibilidade de viver com consciência disso, determinando a sua maneira de estar e agir no mundo.

Lembra-te. Vive, não te limites a existir.