
Incrível sensação de liberdade. Ou, quem sabe, a liberdade em si mesma.
Na despedida, ficam os bons momentos.
Ficam os 3 anos de lutas e vitórias.
Fica o 1º dia, e fica antes dele, até.
Ficam os que por lá passaram, que foram tantos. Ficas em especial tu, minha dupla imbatível.
Ficam os banhos, os shots, as lições de caipirinhas, as botijas de gás, as cadeiras, as fotos, as músicas, os apertões, as amizades, as lágrimas, os sorrisos, o Bacardi, a Vodka, o Famouse...
Os momentos menos bons ficam também. Superamos o impossível! Afinal, batemos todos os records em tempos de crise.
Hoje, a última. Desta vez, é mesmo a última.
Lição de 3 anos: acreditar sempre, nunca desistir.
Arrebatada por uma falta de incertezas. Incertezas essas que são o sonho e o risco daquilo a que chamo vida. No meio de tantas (e tão poucas) certezas, fico-me pela certeza de que estou onde devia estar. E que caminho para onde me levas. Habituei-me a uma vida cheia de incertezas. Vivi sempre na realidade (ou ilusão) que o importante é ter a certeza do que não quero, mesmo sem a minima ideia do que quero. Estranha forma de vida esta.
Hoje, dou por falta das incertezas. E nada do que tenho é certo. Falta a incerteza de saber se estás ai ou não (estás e pronto!). Falta a vontade das coisas novas, a incerteza de como elas serão. A certeza hoje é de viver tudo, o que é novo ou velho, no meu mundinho feliz (encantado e azul por também ser vosso). Na verdade, neste momento que é o agora, tudo é certo e tão certo é também que tudo que vai deixar de o ser. Fico-me então pela mais bonita certeza, em toda a sua imperfeiçao: com vocês por perto, certo é tudo aquilo que eu quiser.
Voltei alguns anos atrás.
Ao tempo em que Torres Vedras era a cidade das aulas, e Santa Cruz a terrinha de uns fugasses dias de verão. Nesse tempo, a vida decorria ai, entre os limites de Benfica e do Linhó. Mais umas semanas na manção da Rocha, uns fins de semana na Salema ou na Quinta da Dádá, as férias do Natal em Serra Nevada ou Andorra, ou os dias no Luso ou na barragem de Castelo do Bode. Que mais poderiamos nós querer se nunca nos faltou nada?
Quatro crianças felizes. Eramos todos tão diferentes que nunca nos fartavamos uns dos outros. Eu era a mais presente, não dividia os fins de semana entre a mão e o pai. Mas era também a mais distante, a minha veia torreense ia sempre comigo e nem sempre ficava à porta. Nos anos em que fomos só quatro era tudo mais fácil. Nasceu uma amizade para a vida. E, como se de uma eternidade fosse, nasceu também o meu primeiro amor. E seguiu-se o primeiro beijo. E eu lia Tiago Rebelo (Para Ti, uma Vida Nova) só pela coincidência no nome: M.C. Mas o grupo foi crescendo, e a entrada do resto da juventude foi o passo maior para o nosso afastamento.
Na altura, Summer of 69 levava-nos ao rubro, acho que nunca soube bem porquê. E faziamos uma viagem Salema-Lisboa a ouvir sempre a mesma música - a letra dos Eagles ficou, ainda hoje a sei decor. Talvez a tenha guardado como recordação da queda propositada nas águas frias da barragem ou da falta de pontaria nos tiros às galinhas com a pressão de ar. Ou talvez só por guardar, como tantos outros momentos de uma boa época.
Ao longo dos anos fomos aprendendo e reaprendendo com as vitórias e as derrotas, as alegrias e os erros dos adultos. Ensinaram-nos um milhão de coisas. Poucas coisas batiam certo com o que aprendiamos londe dalí, mas nunca nos questionamos sobre isso. Era assim e pronto. "Há vidas mais baratas, mas não prestam" (D.V.) era o nosso lema de vida, e dava o mote aos alomoços tardios no Meco ou ás tardes de piscina no Linhó. Era tudo tão perfeito.
E hoje, tenho saudades de ti Linhó. Saudades da amizade que deixaste acabar. Saudades de um tempo que afinal nunca existiu. E ponho em causa toda a minha infância e juventude. Afinal, o que sempre me ensinaram, para vocês não passava de palavras. Os valores, a amizade, o amor. O que é isso afinal? Se vocês não sabem, como podemos nós, vossos disciplos saber? No meio de um grupo tão grande, eu continuei a acreditar. Por muito tempo. Talvez tempo de mais. Hoje, já não acredito.
Disseram-nos, durante tantos e tantos anos qua a amizade move montanhas. Agora sei que não. Mostraram-me vocês que quem comanda é a carteira. No meu tempo, a amizade não se contava em escudos, e as fotos das revistas era tema de última opção. Se voltasse hoje, não saberia viver com toda a subtileza da luxuria. Fui ensinada a viver bem. Não a viver como é de bem.
E, se ao fim de muitos anos, nos juntarmos todos (geração perdida) numa mesa de jantar (talvez no António, para ter mais sentido), espero encontrar ainda o meu lugar. E se no final não houver discussões e ninguém se chatear, prometo que nunca mais dúvido que tive a infância mais bonita do mundo.
Pupa
Lua Adversa, Cecília Meireles